Qual é a sua cor de dentro? Preta, branca, rosa, colorida? Foi a partir do relato de uma colega de profissão, também professora, que o título ‘Descobrindo a cor de dentro’ nasceu: um dos alunos, ainda na primeira infância, não a tinha percebido como uma pessoa negra. Como assim? Existe um momento de descoberta identitária? A partir de qual momento as crianças começam a ter essa percepção? Isso começa em casa ou na escola?

Tantos questionamentos geraram o livro infantil ‘Descobrindo a cor de dentro’, o primeiro livro publicado pela professora, moradora de São Gonçalo, Patrícia Schunk. Publicado pela editora Brinque Ler, com ilustrações de Cecília Machado, o livro traz a história de Gabriel e Alice, sua professora. Através de uma atividade na escola, Gabriel faz uma descoberta muito importante, que muda sua vida e suas atitudes.

Saiba tudo sobre a publicação do livro e curiosidades do processo na entrevista exclusiva ao Mapa das Letras.

Com vocês, Patrícia Schunk!

MAPAComo podemos resumir a sua carreira literária. É seu primeiro livro publicado?

Patrícia – Sim, ‘Descobrindo a cor de dentro’ é meu primeiro e único livro. A partir do relato de uma professora em um curso de formação, a colega disse que o aluno dela não a percebeu como negra. Fiquei com isso na cabeça, e em casa, escrevi em um pedaço de papel “A cor de dentro”, e essa situação. Pensei que daria uma história. Com o fim do ano letivo, eu estava de férias e resolvi colocar a ideia do título em texto.

A inspiração veio rapidamente a partir da escolha dos nomes dos personagens, e em minutos eu já tinha o texto pronto. Isso foi em 2019. O arquivo ficou guardado no computador por um tempo até que eu tive coragem de mostrar para alguns colegas negros. Eu precisava ter o aval deles para saber se o texto os representava ou os feria de alguma forma. Com a avaliação positiva de todos e comentários que me encheram de orgulho, a coragem que me faltava, veio para levar o texto para o mundo. Porém, eu não sabia como fazer isso. E por mais um tempo, o arquivo ficou guardado. Somente no início do ano letivo de 2020, quando uma colega de trabalho me mostrou seu livro infantil pronto e me convidou para o lançamento dele, que seria no mês seguinte, tive o incentivo para fazer a publicação. Ela me passou todos os detalhes do processo de construção do livro para que eu pudesse fazer o meu. Entrei em contato com a editora na mesma semana e no carnaval fechamos o contrato. Chamei a mesma ilustradora do livro de Joana, por se tratar de ser sua cunhada, por estar começando nesse meio e por ser também professora da rede municipal de Niterói, como eu. Fechamos tudo à distância e ela foi responsável por criar os personagens e todas as cenas que eu queria nas páginas do livro. No mês de março veio a pandemia, mas o trabalho não parou. No mês de julho o livro ficou pronto, e dei início à venda e divulgação dele.

Como estávamos em confinamento, consegui participar de contações de histórias, feiras literárias e palestras, virtualmente. Me reinventei em algo que eu nem tinha experiência. No final de 2021, comecei a participar de eventos presenciais, e aí sim foi muito gratificante essa nova experiência de vender livros e ter o contato mais próximo com o público, que é minha parte favorita de ser autora de livro infantil.

Após um tempo de participação em eventos, fazendo contatos e conhecendo pessoas, estreitei laços com colegas que me levaram a mais lugares e a conhecer melhor esse mundo literário. Além disso, um desses encontros foi com a dupla de artistas de Niterói, Glorinha e Renato, que fizeram o audiolivro e uma música exclusiva do livro.

MAPAQuanto tempo levou para escrevê-lo? E em quanto tempo conseguiu publicá-lo? Como foi a relação com a editora? E o que achou do produto final?

Boa parte da resposta está na questão anterior. Acredito que por conta de a Brinque Ler ser uma editora familiar, fui muito bem acolhida, orientada e até hoje temos uma relação próxima. O produto final ficou muito bom, de alta qualidade. E em uma próxima tiragem, pensamos em fazer algumas alterações para deixar o livro ainda mais lindo e acessível.

MAPAO livro é destinado a qual público (faixa etária das crianças)? E o que podem esperar da história?

Patrícia – O livro é indicado para o público infanto-juvenil, mas eu digo que por ter uma mensagem muito importante sobre preconceito e racismo, indico para todas as idades. Costumo dizer que ele está disfarçado de livro infantil, mas o texto antirracista deve chegar a todas as pessoas. Com uma mensagem sensível e objetiva, os protagonistas, Gabriel e Alice, vivem uma situação delicada, e juntos, aprendem um com o outro.

MAPAQual a sua maior expectativa enquanto autora de livro infantil? Onde busca chegar nessa trajetória da escrita?

Patrícia – Ao lançar o livro não o fiz por vaidade, pois nunca me vi como autora ou escritora. Meu desejo é que a mensagem dele chegue o mais longe possível, a mais pessoas e a mais corações.

MAPAQual a sua opinião sobre a geração atual de crianças e adolescentes, que já crescem inseridos no meio digital? E qual dica você dá para incentivar a leitura aos pequenos; como pais e educadores podem trabalhar essa questão?

Patrícia – Eu vejo que se a família efetivamente não entende a necessidade de adquirir livros e incentivar o hábito da leitura junto com a criança, fica muito difícil que ela goste espontaneamente de ler. A criança aprende pelo exemplo, seja em casa ou na escola. A concorrência com os celulares e tablets é desleal, pois eles são mais interativos e dinâmicos. Mas são poucos os jogos e outros meios digitais que incentivam a criatividade e imaginação como os livros. Além do fato de que quem lê, escreve e fala melhor. Isso é fato. E meios digitais tem um tipo de interação da criança com ele mais passiva, onde muitas vezes, elas só assistem os conteúdos.

As crianças do mundo de hoje têm acesso a muita informação e estímulos, mas de pouco adianta esse acesso se não for bem administrado. Tudo é uma questão de equilíbrio.

Ou seja, nada substitui a riqueza que envolve a leitura de um bom livro.

MAPA Como você avalia a cena literária na região metropolitana atualmente? Costuma estar presente nos eventos?

Patrícia – Costumo participar de eventos na minha cidade e em cidades do entorno. Já levei o livro para outras cidades do Estado do Rio Janeiro, e em todos os eventos o saldo foi bastante positivo. Aliás, após o lançamento e de me tornar vendedora do meu próprio livro, percebi o quanto é rico o cenário literário em São Gonçalo, e como temos talentos por aqui. A maioria dos eventos que participei foi na minha cidade, o que me deixou supresa positivamente, pois os fazedores de cultura de São Gonçalo são incansáveis para levar arte para as pessoas.

Sei o quanto é difícil erguer um evento de qualidade sem patrocínio, e com o tempo, percebi que são os artistas e autores que ajudam a fazer os eventos, pagando para participar deles, muitas vezes sem ter a garantia do retorno do investimento.

MAPAQual o maior desafio que considera ter enfrentado durante a escrita e a publicação do livro?

Patrícia – No caso de Descobrindo a cor de dentro, foi ter a segurança para lançá-lo passando por um aval de colegas que vivem o racismo cotidianamente.

MAPA Pretende escrever outro livro? Se sim, o que levará de experiência para fazer e para não fazer numa próxima publicação?

Patrícia – Tenho uma história praticamente finalizada, mas ainda sem título definitivo, que é resultado de situações que vivi na escola no ano de 2023. Mas ainda não estou confiante para lançá-la. Creio que percorrerei caminhos parecidos com o primeiro, buscando também uma estética aliada à qualidade do material e do texto.

MAPAQual momento mais especial de que se lembra ao ler o seu livro para as crianças?

Patrícia – Quando vou a eventos em escolas contar a história do meu livro, a parte que mais me emociona é quando eu peço que as crianças e adultos comparem suas cores com quem está do lado, encostando os braços, assim como os protagonistas fazem no livro. Tenho fotos lindas desses momentos.

Fora que o contato com o público é extremamente recompensador, gratificante, emocionante também. Ouvir uma crítica e saber que o leitor gostou do meu trabalho é muito bom!

MAPADeixe um recado sobre a sua experiência para outros autores que também gostariam de publicar um livro infantil.

Patrícia – Assim como eu, muitas pessoas pensam que é difícil lançar um livro, ou não sabem por onde começar. Eu as incentivo a buscar uma editora que as acolha e faça um bom trabalho, explico que não é barato, mas que o resultado final e o retorno do público não tem preço. Vale muito a pena caso seja um sonho. E é super possível!

Sinopse do livro:

O que é a cor de dentro? Para essa questão, não há resposta certa. A cor de dentro é aquela que conseguimos perceber com os olhos do coração. Ela é nossa essência –o nosso brilho de existir.

Conheça o trabalho da autora no Instagram: @patrickschunk.


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