Fazia tempo que não produzia nada literário. Minha primeira e última coluna aqui foi em janeiro. Curiosamente sobre cansaço, correria, atropelo das redes sociais. E finalizei com um convite: participar e acompanhar o conteúdo do Mapa. Para ler ou reler, clique aqui.
Mas uma noite silenciosa de domingo me convidou a escrever. Algo para refletir – como o nome da coluna sugere – mas desta vez o texto nasceu em forma de poema.
Escrevi no bloco de notas do celular, tomando uma taça de vinho rosé, casa no breu, a TV me assistindo. Como sempre acontece quando uma mulher escreve, me perguntam se o poema é sobre alguém específico.
Quem sabe. Isso importa?
Talvez na impossibilidade de gritar, eu queira escrever e seja apenas isso. Talvez meu ponto fraco seja a força que encontro na literatura e na audácia de tentar fazer poesia.
Mas talvez seja sobre uma pessoa.
Quem sabe.
Ponto fraco
Você foi, é
e sempre será
meu ponto fraco.
Dose de caos
no trivial da rotina.
Sabor de falha
doce suor e perfídia
que escorre pelos olhos
palavras não verbalizadas.
É tarde com sabor de café, de fuga
de medo de voltar no tempo
e reviver o que foi bom
mas não o bastante
para ser público.
Você é dose de sol
numa tarde na varanda
aquece, sem arder
queima por dentro
só por dentro
como quem despe
com o olhar e
não pede permissão;
apenas sorri de canto
e me faz desejar o que
estaria imaginando.
Você é avesso a emoções
mas nunca me importei
porque sei os motivos;
já foram os meus também
e só entende quem viveu
a ilusão de achar
que pertence a alguém.
Você é fogo dentro do gelo
anjo em capa de monstro
amigo entre muitas aspas
abraço com sabor de infinito
refúgio e ruína.
Meu maior poema
sem paixão, sem mágoa
e sem mágica
vida real e trivial
como nos jornais
você foi alívio
pesadelo e angústia
e raiva derramada
insalubre.
Você até foi meu por um tempo
mas agora é tarde
e sinto sabor de café, cerveja
e conversas baratas.
Na língua, o amargor de implicância
na mente, alguns devaneios;
Quer saber?
Você não pertence a ninguém
além de si mesmo
e à subversão do tempo
que nos atravessa em pecados.
Você é noite sem estrelas
e talvez zombe da poesia
enquanto sonha que toca
o corpo que nunca deixou
de ser parcialmente seu.
Quer saber?
Você não pertence a ninguém
mas foi, é
e nunca deixou de ser
meu
ponto fraco.
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