Um encontro com Matilde Campilho Conheci Matilde Campilho, escritora contemporânea portuguesa, através dos Reels nas redes sociais e costumava gostar do que me era apresentado naquele formato. No entanto, fui pega de surpresa ao me deparar com seus livros. Não conseguia gostar da mesma forma como gostava dos vídeos. Li, reli, parecia que alguma coisa…
Conheci Matilde Campilho, escritora contemporânea portuguesa, através dos Reels nas redes sociais e costumava gostar do que me era apresentado naquele formato. No entanto, fui pega de surpresa ao me deparar com seus livros. Não conseguia gostar da mesma forma como gostava dos vídeos. Li, reli, parecia que alguma coisa “não batia”. Até que fui estudá-la num dos territórios poéticos, oficina oferecida pela escritora Mell Renault. Durante os encontros descobri que a poesia da Matilde tem o diário de bordo como parte integrante de sua composição. Enquanto caminhava pelas ruas do Rio de Janeiro, ela registrava em áudios suas impressões sobre o que via, a fim de compartilhar com seus amigos que estavam em Portugal. Assim, nascia uma poesia de trânsito, em constante movimento e em fluxo de consciência. Os arranjos temáticos perpassam pela sua biografia. Ela coloca sua experiência em movimento de poesia, resgatando a tradição do eu lírico no poema. Sua poética nasce da fala e tem esse tom imediato, imagens do presente, fusão de gêneros, sensação de atualidade, registro que não se apega às formas tradicionais, itinerários híbridos. Entendi o que “não batia”. Era o suporte. O formato livro não dá conta dos poemas em prosa da Matilde. Na fluidez do verso livre que se derrama, nas bricolagens, nas partituras emocionais e na paisagem, o poema se faz enquanto realidade que interfere na invenção e a invenção atravessa a realidade. Se estivéssemos no teatro, eu diria que ela quebra a quarta parede e nos coloca dentro dessa conversa entre ela e seu interlocutor. Sua poesia é intima, confessional e cotidiana. O poema se insere no acontecimento da vida, a vida se insere no poema, ele é um mosaico de impressões e sensações.
Você já leu um poema em fluxo? Enquanto estudava a Matilde Campilho, fiz a minha experimentação.
Eu tenho um texto publicado no meu Instagram com o título Pela janela da van, não sei se encaixa como um poema em fluxo, mas fez todo sentido para mim essa definição, porque escrevi direto no aplicativo enquanto atrevessava a Ponte Rio-Niterói.
Percebo em alguns textos que existem poemas que funcionam no papel, outros que perdem força quando são declamados. Qual suporte que funciona? Muito interessante pensarmos sobre isso!
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